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quinta-feira, 12 de abril de 2012

AMOR E ÓDIO POR PORTO ALEGRE


Tenho sentimentos ambíguos por Porto Alegre. É uma relação antiga e como tal repleta de amor e ódio.
Eu amo Porto Alegre porque eu moro aqui e odeio Porto Alegre porque essa escolha exclui um milhão de possibilidades: não moro em São Paulo, Nova York, Paris ou talvez na Patagônia ou nos confins da Mongólia.
Eu amo Porto Alegre porque tem o Guaíba, que é lindo. Eu odeio Porto Alegre porque cada vez mais a cidade se afasta e se esconde do rio.
Eu amo Porto Alegre porque daqui é comum saírem pessoas criativas, que correm o mundo exibindo seus talentos. Eu odeio Porto Alegre porque muitas pessoas precisam sair daqui para que suas capacidades sejam reconhecidas.
Eu amo Porto Alegre porque tem o Grêmio e odeio Porto Alegre por que tem o Inter. Sendo que o amor ao Grêmio às vezes me dá raiva e o ódio ao Inter, tenho que admitir, não deixa de ser uma homenagem.
Eu amo Porto Alegre porque ela tem uma geografia bonita, é uma cidade arborizada e com uma luminescência incrível. Eu odeio Porto Alegre porque ela tem pouquíssimos lugares onde é possível passear a pé. Nesse parágrafo ainda tem alguns ódios a mais: eu também odeio a cidade pela sua abundante e indiscriminada veiculação de cartazes de propaganda; pelo sujo e fétido riacho Ipiranga; pela arquitetura insossa e monótona dos prédios contemporâneos.
Eu amo Porto Alegre porque é uma das cidades com mais salas de cinema do país, e eu odeio Porto Alegre porque quase todas ficam dentro de shopping centers e porque as programações estão cada vez mais subjugadas a uma política de mercado. Além disso - ou em razão disso - a maioria das pessoas se concentra mais na pipoca do que no filme - o que até nem seria um problema, exceto por fazer tanto barulho.
Eu amo Porto Alegre por causa da Redenção, o espaço mais bonito e democrático da cidade. Eu odeio Porto Alegre por essa ideia, que talvez seja necessária - o que é pior -, de cercar o parque.
Eu amo Porto Alegre porque, estando fora do eixo e sendo relativamente pequena, a cidade preserva algum caráter de província: hábitos caseiros, amigos próximos. E eu odeio Porto Alegre por um certo provincianismo retrógrado que é famoso e típico daqui: um hábito quase comum de puxar para baixo qualquer um que ouse levantar o queixo acima do nível do rio Guaíba.
Mas, sobretudo eu amo Porto Alegre porque foi aqui que nasceu a minha filha. E nesse quesito não existe nenhuma objeção. Só existe amor. 
Fonte: José pedro Goulart

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